Cana-de-açúcar: em que pé estamos?
Atualmente, mais de 47% de toda energia utilizada no Brasil vem de fontes renováveis, sendo o setor sucroenergético responsável por 18% do total consumido no País. A cana-de-açúcar é a matéria-prima que traduz essa relevância com a produção de etanol e a bioeletricidade. Ocupamos a segunda colocação na produção mundial de etanol com 20% de mercado e representamos um quinto das exportações mundiais. Além disso, temos aqui o maior programa de substituição por energia limpa no mundo em contraponto à base fóssil.
Embora esses índices apontados pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA) sejam favoráveis, evidenciando a potência do segmento, o setor sucroenergético merece atenção para a retomada de seu crescimento, que tem sido bastante afetada desde crise econômica internacional de 2008.
Hoje a produção conta com inúmeros desafios que estão relacionados à expansão da cultura, inovações em infraestrutura, redução de custos e políticas governamentais. Nos canaviais a palavra de ordem continuará sendo o aumento de produtividade, ou seja, produzir mais toneladas por hectare.
Do ponto de vista de inovações agrícolas, os desafios têm se acentuado em função de condições climáticas, rentabilidade e produção sustentável. Para que se tenha uma ideia, nos últimos seis anos, o Brasil quase dobrou sua área cultivada, período em que a preocupação era ter grandes ganhos em escala, expansão dos canaviais e quantidade da matéria-prima. Essa época foi marcada também pela baixa qualidade das mudas de cana, aparecimento de pragas e doenças na planta e no solo. Mais uma vez, todos esses fatores, incluindo a falta de modernização, tem tido um impacto na produtividade do setor.
Para alterar esse quadro é de extrema importância que novas tecnologias no campo auxiliem o produtor na relação custo versus benefício. Para atender a esse mercado e cooperar para o seu desenvolvimento, a indústria de agroquímicos, por exemplo, já oferece soluções de manejo que colaboram para um desempenho superior da cana, levando em consideração preço, competitividade e produtividade. O uso de fungicidas na cultura é uma novidade, algo inimaginável há alguns anos, e que tem trazido ganhos e incrementos. O desenvolvimento de mudas sadias, com o aumento da qualidade dos viveiros de cana-de-açúcar também fortalece o segmento, já que prevê áreas comerciais com plantio de melhor qualidade. Atualmente, já é possível também mapear os canaviais para detecção de áreas mais produtivas por meio de georreferenciamento, entre outras novas soluções disponíveis e já consideradas indispensáveis.
Embora este cenário pareça por vezes obscuro, o Brasil ainda mantém um alto potencial para fornecimento de subprodutos de cana, em especial o etanol, seja para consumo próprio ou para exportações. Entretanto, ainda nos deparamos com uma política de favorecimento à gasolina, que é indiscutivelmente mais poluente. Ainda referindo-se ao etanol, é importante lembrar que este combustível apresenta menos emissões de gases tóxicos, é rentável (e pode ser ainda mais), além de grande gerador de emprego e de renda, o que faz dele uma fonte de energia mais sustentável.
Dessa forma, fica evidente que o setor sucroenergético tem feito sua lição dentro da usina, mas ainda necessita de mais incentivos para sair definitivamente da crise e conquistar um espaço mais amplo frente à comunidade internacional aliada a otimização de investimentos.
Marcelo Maniero Ismael, diretor de Negócios da Unidade de Proteção de Cultivos da BASF para o Brasil