Governo onera o etanol
Depois de quase um ano no aguardo do reajuste do valor da gasolina, na esperança de ver o etanol voltar a competir com o combustível fóssil, o setor sucroenergético se frustra mais uma vez com a ingerência do governo federal ao persistir num reajuste, em 4%, abaixo do valor internacional. Se não bastasse o problema criado para a Petrobras, com prejuízo de caixa porque tem comprado gasolina mais cara no mercado externo e vendido mais barata internamente, bem como para as usinas e fornecedores de cana, pois tem mantido a concorrência desleal com o combustível não poluente e renovável, a decisão governamental ainda priorizou elevar o preço do diesel em 8%, um dos principais insumos do transporte da cana e do etanol, aumentando seus custos de produção.
A ação governamental, além de ampliar a insegurança de investidores no setor sucroenergético, também acelerará a bolha financeira no segmento, a qual vem se ampliando por conta da equivocada política nacional de combustível. Batemos recorde na safra de cana, o que aparenta mostrar que as coisas vão bem, mas não é bem assim. É preciso explicar que, por um lado, o segmento sucroenergético, principalmente na região Centro-Sul, está fortemente financiado pelo BNDS. No entanto, por outro lado, com o desestímulo ao consumo do etanol, praticado pela política de combustível do governo, não há milagres nas finanças para pagar tais financiamentos. Sem estímulo ao etanol, haverá um verdadeiro calote. Isso é uma bolha, que estourará a qualquer momento.
Arrisco a dizer que a quebradeira do setor já começou em função da equivocada política de combustíveis. A Bunge, que investiu 2 bilhões de reais no setor, já está procurando compradores para vender suas empresas. O quadro é ainda mais pessimista diante da previsão de que, com a atual intervenção nos valor de combustíveis, outras empresas multinacionais também podem sair do segmento, uma vez que não existe segurança para quem quer investir no etanol brasileiro. A prova disto é que, em cinco anos, já foram fechadas mais de 50 usinas e outras dezenas estão em recuperação judicial.
Isso tudo é lamentável e incompreensível, mas por que quebrar até mesmo a própria Petrobras? Com o reajuste da gasolina de 4% na refinaria, conforme aprovado pelo governo, o que corresponde a uma elevação para o consumidor final de 2,5 %, a defasagem para a estatal continuará alta. A Petrobras terá um prejuízo de 13%. O saldo da empresa na balança comercial foi negativo em US$ 22,4 bilhões de janeiro a outubro de 2013, um valor não só recorde como também 157% superior ao déficit de todo o ano de 2012. Em contrapartida, o diesel foi reajustado em 8% na refinaria, podendo chegar ao consumidor em 4%. Esta é uma condição terrível para o setor sucroenergético, já que o diesel é bastante importante na produção agrícola e no transporte do etanol, elevando os custos. Com esta política suicida do governo em relação à Petrobras e ao etanol, evidencia-se a política equivocada de desestímulo ao combustível renovável e nacional, priorizando o combustível fóssil e importado.
Alexandre Andrade Lima é presidente da Unida