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Opinião

FCStone avalia mercado sucroenergético

 O setor sucroenergético brasileiro vive hoje uma das piores crises já enfrentadas em sua história. As causas são diversas, desde a quebra agrícola recente até a falta de previsibilidade que o setor deixou de ter, perdendo assim grande potencial de investimento que tinha anos atrás. O mercado internacional teve também seu papel e contribuiu de forma relevante no que diz respeito ao açúcar, devido principamente aos quatros ciclos mundiais seguidos de superávit de produção e consequentes estoques elevados, mantendo uma confortável relação de estoque/uso.

Nesse quesito, as perspectivas para o fim de 2015 podem trazer um pouco de ânimo ao mercado. As projeções de produção e consumo de açúcar de todo o globo apontam para uma reversão de tendência ao fim de setembro de 2015 (fim do ciclo mundial de açúcar 2014/15), com um possível registro de um pequeno déficit produtivo, fato que irá auxiliar para equilibrar os estoques existentes e aliviar a pressão baixista presente nos preços de bolsa (ICE-NY Açúcar #11).

Contudo, é importante reiterar que essa reversão de superávit para déficit mundial de açúcar não irá trazer uma mudança imediata ao setor sucroenergético, resolvendo todas as dificuldades vivenciadas no momento.  A mudança deve ser longa e contínua e ainda encontrará muitos obstáculos pela frente. O cenário macroeconômico conturbado é, no momento, o maior deles. Diversos países demonstram dificuldade em sustentar um relevante crescimento econômico, ao passo que os EUA, “porto-seguro” do mercado financeiro, demonstra crescimento mais sólido, causando uma inevitável repatriação de dólares e consequente ajuste cambial. Ressalta-se, também no campo macro, a pressão existente nas commodities devido à forte desvalorização do petróleo em bolsa (o WTI desvalorizou-se de US$ 110/barril em junho/14 para a casa de US$ 46/barril em janeiro/15, notável queda de 58%).

Ainda no âmbito do açúcar, outro fator que poderá complicar a recuperação do setor advém de sua concorrência com o produto indiano, para o qual há uma expectativa de novo anúncio de subsídio do governo para exportação. Se concretizado tal incentivo, a Índia, segundo maior player produtor da commodity, encontrará no mercado internacional uma alternativa de escoar sua produção e elevados estoques, concorrendo assim com o Brasil e disputando por uma demanda já enfraquecida.

Em relação ao etanol, o mercado internacional também teve sua influência para a crise atual. A redução dos mandatos americanos de biocombustível pela EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) e a grande produção de biodiesel americano reduziram em grande volume a demanda potencial para a exportação brasileira. Sendo assim, o destino das vendas concentrou-se no consumo interno de etanol, para o qual algumas medidas (não tomadas com intuito primário de auxiliar o setor) finalmente começam a ser implementadas e podem trazer algum sinal de mudança. Dentre elas podemos citar: a diminuição do ICMS sobre o etanol para 14% em Minas Gerais (e elevação da gasolina C para 29%); aumento da mistura do anidro de 25% para 27% na gasolina C em todo o país; e o retorno parcial da CIDE junto com o aumento do PIS/Cofins sobre a gasolina (num total de R$ 0,22/litro), recentementes anunciados para toda a federação.

Em síntese, tais mudanças regulatórias e tributárias poderão sem dúvidas trazer uma maior demanda interna pelo etanol e auxiliar no aumento das margem das usinas. Soma-se a isso o cenário de previsibilidade da reversão de superávit para déficit mundial de açúcar, que por sua vez também poderá trazer uma gradativa valorização de preços em bolsa, auxiliando a recuperação do setor sucroenergético no decorrer de 2015. Contudo, para a plena recuperação de um setor altamente endividado e com altos custos de produção a previsibilidade e os investimentos fazem-se necessários, dado que o prazo para a recuperação da situação vigente será árdua e precisará, sem dúvida, de uma maior atenção e participação do atual governo, passo este que pode ser iniciado com uma simples definição clara da matriz energética do País.

Murilo F. Aguiar  é Consultor de Gerenciamento de Risco da FCStone

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